JARDIM DIGITAL W4LKER

NOTAS E IDEIAS

duas obras de dois Knausgard

criado em: 22:15 2022-08-24

Relacionado


Sentimento: O autor está confuso sobre o que significa uma "febre literária" e procura entender isso. Ao mesmo tempo, ele compartilha sua experiência pessoal com um livro que o fez sentir uma sensação febril.

Resumo: O autor questiona o significado da expressão "febre literária" e explica que a febre é um estado do organismo que indica algo de errado em nós. Ele compartilha sua experiência com o livro "Uma temporada no escuro" de Karl Ove Knausgård, descrevendo como o livro o deixou em um estado febril por causa da forma como o autor compartilhou sua vida e sentimentos com os leitores. O autor conclui que essa "febre" na literatura é a intensidade emocional que um livro pode gerar em nós.

Texto original

Karl Ove Knausgård

“— Esse livro é uma febre mundial” - Já li essa frase, inúmeras vezes em capas, contracapas e orelhas de livros, também em matérias de jornais, revistas e outros meios de comunicação. Mas eu nunca entendi ao certo essa imagem. Algo como uma “febre”. Partindo do meu pouco entendimento da área da saúde, o que eu pesquisei é que a febre é um estado do organismo em que há um aumento da temperatura do corpo acima do limite normal em resposta alguma enfermidade. A febre vem porque existe algo de errado em nós. Sei por experiência própria que a febre nos faz sentir uma espécie de frio. Mas voltando ao nosso organismo literário, tentarei responder o que seria essa sensação febril na literatura além da ideia de modismo, para isso falarei do livro que me acompanhou o mês de novembro inteiro; “Uma temporada no escuro” (Karl Ove Knausgård) - Esse é o 4°livro da série “A minha luta”. Nele o jovem Karl termina os estudos, e decide virar professor. Para isso sai de casa e vai morar Hafjord, uma vila de pescadores no norte da Noruega. Convivendo com adolescentes pouco mais jovens do que ele, descobrindo as amarras do ofício que a escrita proporciona, Karl Ove terá uma temporada “febril” que pode ser imaginada por uma grande escuridão. Essa escuridão é física (por lá, durante o outono e o inverno, o sol mal aparece e, em alguns locais, há total falta de luz solar) e também psicológica; muitas vezes recorrendo ao álcool como forma de fuga, o que temos é um texto totalmente entregue as reais sensações que o jovem sente ao descobrir essa nova transição à fase adulta. Esse livro nos deixa em um estado febril porque fere a nossa intimidade; é a febre pela vida que Karl Ove entrega aos seus leitores, não é moda ou mania, é uma escrita que inflama a nossa forma de sentir o texto.

Linda Boström Knausgård

Sentimento: O autor expressa sua admiração pelo livro "A Pequena Outubrista" de Linda Boström Knausgård e sua coragem ao expor sua experiência em um hospital psiquiátrico e com eletroconvulsoterapia. O autor destaca a força da autora em enfrentar sua depressão e encontrar momentos de vida que eram maiores do que a própria doença.

Resumo: O autor elogia o livro "A Pequena Outubrista" de Linda Boström Knausgård por sua coragem ao expor sua experiência em um hospital psiquiátrico e com eletroconvulsoterapia. O livro é descrito como uma experiência de vida intensa e dramática, mas também com momentos de superação e poesia que são maiores do que a própria depressão. O autor conclui que o livro é uma história de luta e de superação, um grito não de dor, mas de coragem e determinação.

“(…) O anestesista avisava que a gente iria adormecer em seguida e então o anestésico gelado era injetado na corrente sanguínea no conector antes instalado. Aquilo era como beber a escuridão”. (pág.10) Linda Boström Knausgård em seu romance “A Pequena Outubrista” Trad. Luciano Dutra) não apenas bebe essa escuridão como também a transforma em um estado para o leitor contemplar e sentir de perto. No livro, Linda narra sua experiência em um hospital psiquiátrico onde tratou uma severa depressão com eletroconvulsoterapia. O relato é narrado em primeira pessoa, tornado a experiência forte, obscura, porém a essência está na coragem da autora em expor todo aquele procedimento. Se de um lado temos uma narrativa dramática visando todos os procedimentos, as dores, os questionamentos sobre a vida de Linda, as dissidências do seu casamento com o escritor Karl Ove Knausgård, do outro temos uma mulher que não apenas sobrevive, mas vive. E, é essa parte do romance que mais me despertou a atenção. Os momentos em que a vida era maior que a depressão. Os momentos em que a escrita, a poesia fora um despertar daquela escuridão. O livro é uma experiência de vida em todos os sentidos. Os procedimentos com choques foram uma alternativa para determinada situação. Mas os choques que a vida proporciona, esses sim são potentes, fortes ao ponto de não destruir uma lembrança, mas sim de marcar as nossas vidas. Se o leitor é convidado a mergulhar nessa escuridão — “(…) Logo que botei os meus pés lá dentro compreendi que ali na enfermaria psiquiátrica Katarinahuset não havia nenhuma ajuda a encontrar” — também é convocado a experimentar a vontade de vencer; “(…) E sairmos. Ninguém nos deteve quando caminhamos juntos pelo corredor. Era como se tudo estivesse queimando na periferia da visão, como se nós estivéssemos queimando tudo às nossas costas”. Um grito não de dor, mas de superação!