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Swartz alerta sobre a internet

criado em: 12:23 13-01-2023

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fonte estadão


Aaron Swartz foi um prodígio da programação que co-fundou a Reddit e tornou-se milionário aos 19 anos de idade, mas mais tarde se tornou uma voz líder contra o poder das grandes corporações da Internet. Ele morreu aos 26 anos de idade depois de liderar uma disputa pela livre circulação de artigos acadêmicos contra o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Seus avisos sobre o controle da internet ainda são relevantes hoje, ele enfatizou que a internet não deveria ser dominada por algumas poucas empresas, e na época de sua morte, gigantes tecnológicos como Google e Facebook já estavam mostrando sinais de serem ameaças a uma internet descentralizada.

“Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”, dizia Swartz a respeito do controle de grandes empresas de tecnologia. Ele temia que as gigantes pudessem não apenas restringir, mas também moderar aquilo que as pessoas consomem na rede.

Talvez, Swartz não tivesse imaginado que plataformas digitais pudessem ter participação em eventos como os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Mas ele temia que empresas de internet atuassem como grandes intermediários da informação e da organização pública — para ele, o acesso à informação era, acima de tudo, um dever político, que não poderia estar nas mãos de empresas com seus próprios interesses.

“Hoje em dia, essa preocupação se combina com o poder de disseminação e viralização da comunicação de uma plataforma. E esse não é um problema somente das plataformas, mas também daquilo que está por trás da radicalização nas redes e dos pontos de difusão dessas ideias extremistas”, afirma Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil, ao Estadão.

Ou seja, Swartz julgava ser imprescindível que todos tivessem acesso à informação produzida por cientistas, políticos e autoridades, além de documentos públicos. A ideia era fornecer insumos para que as pessoas pudessem ter um pensamento crítico baseado em todo o conhecimento possível produzido — é algo que parece trabalhar em oposição das atuais bolhas na internet, onde fontes questionáveis de informação retroalimentam de maneira infinita crenças pré-existentes.

Algoritmos

O uso de algoritmos para curar conteúdo na Internet reforça os receios de Aaron Swartz quanto ao controle corporativo. Os algoritmos não apenas controlam as informações mostradas, mas também mantêm os usuários envolvidos com a plataforma, mesmo que isso signifique mostrar conteúdo de ódio e desinformação. Twitter, Facebook, Instagram e TikTok são exemplos de empresas que utilizam curadoria com algoritmos para manter os usuários em suas telas o máximo de tempo possível. Swartz propôs uma solução para este problema através da co-criação do protocolo RSS, que é uma ferramenta para distribuir links independentemente da plataforma. Desta forma, os usuários poderiam selecionar e compartilhar links sem estarem vinculados à curadoria da plataforma. O projeto RSS não está mais em uso, mas poderia ser potencialmente uma solução para os problemas das redes sociais, da desinformação e da economia da atenção.

Legado

A Internet está atualmente passando por um novo debate sobre a descentralização e o poder das grandes empresas de tecnologia. Alguns acreditam que a web3, uma nova configuração da Internet que depende da comunicação direta entre os usuários e tecnologias de validação como a Blockchain, pode remover o poder dessas empresas. Entretanto, esta transição não será fácil, pois é um problema de centralização do conhecimento para a infra-estrutura da Internet. A visão de Aaron Swartz sobre a Internet levou a resultados concretos como as leis Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil, que dão aos cidadãos direitos no ambiente digital. Grupos ativistas como o Coding Rights, Data Privacy Brasil, Internet Lab, e o coletivo Coalizão Direitos na Rede continuam a defender o acesso à informação e o direito às leis que protegem a vida online dos indivíduos. O Instituto Aaron Swartz Brasil foi fundado em 2022 para continuar seu trabalho e conectar ativistas em nome do movimento pelo livre acesso à Internet.